quarta-feira, 8 de maio de 2013

GEORGE CLINTON - ATOMIC DOG


Há mais de 40 anos, George Clinton lidera uma das mais influentes bandas de funk da história, embora seu papel nela seja tão essencial quanto indefinido. Nas diversas encarnações do Parliament Funkadelic, desde os anos 70, o homem toca teclado e canta, sempre com o auxílio de craques que fazem isto tão bem ou melhor que ele. Ao vivo, George anda pelo palco durante boa parte do show e sua voz é ouvida só de vez em quando, o que faria qualquer outro líder de banda ter uma importância questionável. No entanto, como mostrou no frio da madrugada deste Sábado, ao encerrar a primeira noite do festival Black na Cena, George consegue ser a âncora da sonoridade psicodélica.
Em frente a um público pequeno, que tinha uma roda de break dancing ao centro e não preencheu nem metade da Arena Anhembi, sua figura era imponente: casaco preto, chapéu de almirante, cabelo aparado, sem os característicos rastas coloridos. Aparentava estar um pouco fragilizado devido a uma infecção na perna que o deixou de cama, no hospital, no fim de maio. Sua voz, meio rouca, pontuava alguns refrões mas deixava as partes difíceis para os dois lead singers da banda. Mesmo assim, a "nave mãe", como dizem os versados na mitologia da banda, havia aterrissado. Durante uma hora e meia, George botou a arena para dançar ao som de seu carnaval sonoro, que incluiu hits como Flashlight e We Want the Funk tocados por uma banda de doze a quinze pessoas.
A sensação de coletivo inerente a uma apresentação do Parliament Funkadelic estava em evidência, pois a ocasião marcava o aniversário de George e o recém-setentão recebeu no palco o rapper Flavor Flav, figura central do lendário Public Enemy, que tocou na noite de sábado. Flav foi responsável por boa parte do ímpeto da apresentação. Rimou, cantou, dançou. E a grande família de George não só o recebeu durante todo o show, como o deixou ficar à frente do palco, agitando a plateia como se fosse a atração da noite: um gesto de camaradagem e respeito entre duas gerações da música negra. 


Flav não foi o único destaque. Na terceira música, George chamou à frente do palco sua neta, Sativa, que improvisou rimas com destreza, além de soltar o vozeirão soul. A banda suingava com a intensidade de quem é macaco velho, mas não perdeu a vitalidade. O público se deixava levar a cada música, tanto pela força rítmica da música quanto pela necessidade de se aquecer. A cada número, o ritmo ficava mais compacto, envolvente. Como se os músicos precisassem de um tempo para sentir as nuances sonoras do local. Em cima de tudo isso, a parafernália sonora do Parliament Funkadelic: sintetizadores afiados, azedos, arranjos de metais; solos de guitarra que vão do thrash metal à escola de Hendrix. Os backing vocals são precisos. Cantam refrões com uma precisão milimétrica que funciona como uma segunda linha de metais. Quando George falou, foi em um discurso poderoso, não muito diferente do de um pastor batista, sobre a importância do ritmo. Quando cantou, foi com uma voz estava áspera, visceral como a de Tom Waits. 

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